Os estudiosos da obra de Cervantes referem como pontos essenciais presentes no seu trabalho, a profunda critica à sociedade da época e a diversão associada à mesma, procurando divertir, talvez a primeira das reacções que Cervantes procurava. Exemplo desta afirmação encontra-se no seguinte: “esta Dulcineia del Toboso, tantas vezes nesta história referida, dizem que teve melhor mão para salgar porcos que outra mulher alguma de toda a mancha”. As caricaturas do séc. XVII e XVIII pegam sempre em D. Quixote como tipo caracterizador do ridículo e do grotesco, carente de sentido, provocador de riso, na sua demência guerreira. A partir do séc. XVIII e XIX começam a surgir outras interpretações: a justiça, a fidelidade amorosa, a nobreza, serão alguns elementos constitutivos desses ideais. Estas vertentes sobrevivem até aos nossos dias e fizeram com que o nosso protagonista surja umas vezes como herói outras como louco. A obra é muito espanhola pelo realismo das cenas que descreve, pelos tipos genuinamente nacionais que apresenta, pelas figuras que faz mover. No seu livro todos os que o lêem podem identificar-se com as personagens e suas aventuras, permitindo que cada geração o cunhe e o interprete à sua imagem, atribuindo-lhe ideias novas que não pertenceram ao tempo em que o autor viveu e que concerteza o espantariam. D. Quixote lutou contra gigantes e feiticeiros e exércitos inimigos criados pela sua imaginação. Os leitores têm vindo a criar dentro dele tristezas, pensamentos, reacções contra a chata realidade das coisas que nunca existiram senão na mente dos críticos que a pouco e pouco foram juntando à bagagem de D. Quixote mais esses apêndices. De facto, por mais exactas que sejam as descrições de Cervantes a respeito das figuras centrais da história, muitos são os pormenores deixados à liberdade de imaginação do leitor. Exemplo desta ideia temos a figura que nos surgiu imediatamente de D. Quixote, a imagem de um cavaleiro magro com uma bacia de barbeiro na cabeça e montado num cavalo todo ele pele e ossos, pileca alongada e estendida, tão descarnado e tão magro, tão tísico “(…) que mostrava bem a descoberto quão avisada e propriamente lhe fora posto o nome de Rocinante (…)”. ”A idade do nosso fidalgo rasava os cinquenta anos. Era de compleição rija, seco de carnes, enxuto de rosto (…). E o que primeiro fez foi limpar umas armas que haviam sido dos seus bisavós, que, cobertas de ferrugem e cheias de mofo, estavam havia longos séculos postas e esquecidas a um canto. Limpou-as e reparou-as o melhor que pôde (…) “. D. Quixote tem inspirado milhares de livros, contos, novelas. No entanto a sua personagem central tem conseguido resistir à acção do tempo, surgindo como vencedora no confronto com gigantes e monstros, animando a nossa imaginação. | |||
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
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João
ResponderExcluirOi estou passando o e-mail para dizer que a edição do caderno de natal vinculará no dia 17/11 e saber se o Sebo Dom Quixote participará conosco , como sempre.
O teu módulo colorido sai R$ 75,00 .
grato
Luiz Renato Barboza